"Quem lê jornal sabe mais." Abro o jornal, leio a manchete: TRAGÉDIA! "Bacanal em plena zona familiar". letras garrafais. "Morrem quatro mulheres! Se jogaram do 10º andar. " Décimo andar?
- Que coragem! Jogar seus corpos e almas duma altura descomunal! Dez andares!
É demais.
É de arrasar! Depois de uma noite de orgia e gozo, se jogar pelos fundos?
Não. Não dá pra entender.
E os fotógrafos? Assim não poderão perpetuar a foto verdeira.
Socorro!
Socorro! Vamos nos jogar, pessoal! Papéis escritos. Mal escritos.
Bilhetinhos voando pelo ar, pelo espaço escuro, nebuloso.
Gritos estridentes.
Em meio a esta confusão toda, a vitrola ligada com música de Chico Buarque.
"Estava à toa na vida.
O meu amor me chamou,
Pra ver a banda passar,
Cantando coisas de amor."
Ninguém acredita.
Comentários: - tão belas e nuas, não vão se jogar mesmo.
Grita um afoito: - Joga! Joga!
Outro mais humano:
Não! Não se jogue! Raio!
- Espera os bombeiros.
Eles vão chegar. Vão amarrar vocês - Segura! - Espera!
-Esperar? - Vou me jogar.
E se jogou imediatamente. Sem dó e piedade de seu corpo nú e belo.
Alarme total.
Oh! Ai! - Meu Deus, que que é isso?
Gritos alucinantes
Lamentações. Nada adianta. nada ameaça:
- Vou me jogar, pô!
- Vocês estão me ouvindo?
Agora o long-play do Chico estava noutra faixa.
"Luciana, Luciana..."
Nada disso, eu estou ficando maluco. Luciana não é do Chico.
- Vou me jogar!... O fogo já pegou no tapete da sala. A fumaça está me sufocando. Entra nos olhos, nariz, boca, entra...
- Ai, gente! Cadê o bombeiro?
Nesse momento mais duas mulheres se jogaram.
Tibum! Baque surdo na calçada fria.
Ninguém pôde ajudar a salva as infelizes.
- Tem mais mulher lá em cima, afirma alguém que sabe a verdade.
O número de frequentadores do fatídico apartamento.
E a polícia? Onde está a polícia? Onde estão os bombeiros com essa escada "Magirus"?
A rede? nada pra socorrer as pobres coitadas? - isso não pode ser, não podia acontecer. haverá exoneração dos comandantes e secretários das respectivas corporações: PMERJ e CB. Tem que haver. E a responsabilidade? - Onde está a responsabilidade? O comando? O comandante? Sei lá quem! Grita uma turma revoltada.
Isso é hora deste comentário, gente?
Continuou o filósofo cidadão. Não parou um só instante de gritar. - mesmo que provem que a polícia e bombeiros estavam tentando capturar o bandido. Trocando tiros com ele. Nada disso impediria de salvar as meninas.
Pára com isso! Pára com isso, porra! Não está vendo que não é hora disso?
- Por que essas mulheres foram as únicas que estavam nessa situação?
Perguntou uma inocente velhinha. - E os outros moradores? Todos conseguiram escapar? Salvar suas peles?
Tendo em vista por objetivo levar a tomar contato com tal problemática, optamos, na medida do possível, a levar a pensar em distinguir diferentes posições. Mas a controvérsia prosseguiu. São, evidentemente, posições maniqueístas.
"Nota Jornalística":
Dirão os neo-litúrgicos: Elas estavam em pecado. Não tinham opção por outras perspectivas. "Quem não estiver em pecado jogue a primeira pedra", dizem as Escrituras Sagradas. Episódio: encontro Maria Madalena, Jesus Cristo e seus algozes.
Dessa maneira, não há prática sem teoria. - Acontece muitas vezes que: a prática é uma teoria que se desconhece.
- Há uma rejeição do subjetivismo, uma atitude racionalista, um primado de fatos. - Pretendo explicar os fatos psicológicos descritos pela crítica. Porque acredito que todos os fatos físicos ou morais tem sempre uma causa. Todos os sentimentos, todas as idéias, todos os estados da alma humana são produtos, tendo suas causas e suas leis. A assimilação das pesquisas psicológicas, fisiológicas e químicas, são produtos de outras pesquisas feitas por tradicionais cientistas.
- E a quarta mulher? Grita um fanático, sedento de sangue.
- Esquecemos sua nudez?
- Seus gritos ecoando no espaço anunciando sua decisão?
- Bum! Estrondo oco. Mais um corpo despido na calçada, já acostumado ao espetáculo indescritível realizado. Novas gritarias. Sussurros. Urros. Desafio à polícia. Tiros. Troca de Tiros. Polícia. Bandido. Bandido. Polícia. Bomba de gás lacrimogêneo para dispersar o povo. nada consegue explicar exatamente porquê daquilo tudo.
"Adotando uma perspectiva oposta à anterior, surge a crítica impressionista. Seus mentores recusam o aparato erudito. Iniciam outros comentários populescos:
- O responsável direto por esta tragédia deve ser o bandido.
- Veio a fim de se divertir numa festa - embalo. Transformou seu céu num presente inferno.
Mas não foi só essa a crítica dotada. Continuou, mesmo depois de tudo mais calmo, o comentário inicial: - polícia displicente. Bombeiros incompetentes. Voz corrente.
Tudo muito impressionante para incautos assistentes.
Nesse percurso diacrônico das principais posições críticas e fatos, em que forem destacados apenas alguns elementos que julgamos essenciais pela natureza desse estudo.
É impossível uma abordagem do problema em todo seu multifacetado desdobramento.
Você escreve com uma facilidade, nossa.
ResponderExcluirVou seguir seu blog, e aprender mais sobre tudo que nascerá em teus ditos
Um Abraço fino
Nielson Alves